A mente voa, percebo o tempo se esgotar muito rápido e o dia passa. Voa feito pipa em dia de ventania nas planícies verdejantes e o cérebro fica a imaginar, criar, sonhar, realizar. Leio mais um trecho de livro, imersa na história para criar novas imagens para os leitores. É uma tarefa muito prazerosa e o tempo passa ligeirinho. Então a mente voa na direção de uma memória quase esquecida.
Essa lembrança parece um martelo insistente, imaginar e avivar no cérebro a saudade de um tempo que não volta mais. À época era possível apreciar o entardecer com as tonalidades rosadas, cor de baunilha e fúcsia. Nada mais importava, havia apenas a paz. Todas as memórias de outrora são pistas para um roteiro criativo de novas ilustrações.
Ah… quem me dera vivenciar isso todos os dias, sem pressa, sem culpa do tempo perdido. Entretanto é possível, observar o entardecer a partir da janela de um edifício comercial ou de um “trabalho em qualquer lugar” (“anywhere office”) ou de um trabalho em casa (“home office”). O tempo parece passar muito mais rápido em decorrência do excesso de atenção requerida no mundo remoto. Há tantas videoconferências, tanta produtividade em agendas cada vez mais “apertadas” e a liberdade do “novo normal” se torna questionável: o tempo voou ou o tempo levou? Voou tornando-se imperceptível ou o tempo levou a liberdade embora?
Volto a observar novamente o relógio… mais um dia se foi. Tempo, tempo, tempo… muitas responsabilidades e compromissos. Flagro-me refletindo sobre o tempo. O cérebro continua a imaginar. Pergunto-lhe: você tem tempo para se deliciar com uma xícara de chá ou café? Talvez saborear uma bola de sorvete de creme banhada em café forte? Quem sabe… estar em uma boa roda de conversa à beira da fogueira de um acampamento com amigos. E por quê? Por que pequenos prazeres da vida passam quase imperceptíveis? Ou me esqueço de parar para refletir na importância do ser. Por que estar a imaginar parece coisa de gente que vive no mundo da lua? Será?…hum, talvez a criatividade seja algo inerente de mentes iluminadas com tantas ideias, pois faz o mundo parecer pequeno para tanto amor.
Eu escrevi amor, sim. Criar, imaginar histórias divertidas, dar vida aos livros por meio das ilustrações é um trabalho de amor. Não basta ler a história, é preciso internalizar, é preciso amar o trabalho elaborado. E tudo requer tempo.
Imaginar histórias é uma paixão. Você tem uma? Um executivo poderia afirmar ser a sua paixão uma agenda organizada, os negócios lucrativos, alguns milhares de dólares em conta. Outro profissional diria preferir uma agenda favorável à saúde. Tente imaginar o que uma criança diria: paixão é estar lado a lado com seus pais assistindo aos seus desenhos favoritos; jogar futebol no jardim até cair na grama de tanto cansaço. Outra criança pensaria no preparo de uma pizza deliciosa na cozinha, junto de seus pais e com direito a fazer aquela bagunça enfarinhada. Risadas à parte, há opções: produzir algo feliz considerando o tempo disponível ou produzir algo estressado sem tempo. Caso contrário a pergunta será a mesma: E o tempo voou ou o tempo levou?